A Mandioca no Contexto Amazônico: Base Socioeconômica e Desafios de Produtividade
A cultura da mandioca (Manihot esculenta) transcende a importância econômica no Amazonas; ela é um pilar essencial para a segurança alimentar e a estabilidade socioeconômica de vastas comunidades rurais. A mandioca é a principal fonte de carboidratos e a base da alimentação para a maioria das famílias de baixa renda na região.
Mais de 59 mil famílias de agricultores familiares dependem desta cultura para a subsistência e comercialização, fornecendo matéria-prima vital para agroindústrias locais de farinha, tapioca, goma e tucupi. O estado dedica uma área significativa de aproximadamente 78 mil hectares por ano ao seu cultivo.
O Dilema da Baixa Produtividade
Apesar da relevância social e da vasta área plantada, o setor mandioqueiro do Amazonas enfrenta um desafio crítico: a baixa produtividade média de raízes, historicamente entre 10,56 t/ha e 11,8 t/ha. Esse baixo desempenho, que impacta diretamente a renda do agricultor, é atribuído a:
- Utilização de cultivares não otimizadas para o clima local.
- Práticas de manejo inadequadas para os solos de terra firme, que são caracteristicamente ácidos e de baixa fertilidade.
- Alta pressão de pragas e doenças regionais.
A BRS Jacundá surge, então, como uma resposta tecnológica para preencher essa lacuna, oferecendo uma genética robusta e adaptada que, quando combinada com o manejo adequado, se torna uma ferramenta estratégica
para elevar a renda e reduzir a vulnerabilidade socioeconômica.
Lançamento e Desempenho Excepcional: A BRS Jacundá em Detalhes Técnicos
O Lançamento e a Mobilização do Setor Produtivo
O lançamento oficial da cultivar BRS Jacundá ocorreu em 9 de outubro de 2025, durante o “Dia de Campo da Mandioca”, na sede da Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus. O evento técnico reuniu mais de 140 participantes estratégicos, incluindo produtores rurais, técnicos de extensão (IDAM e Sepror) e representantes da agroindústria.
Na ocasião, foi anunciado o Comunicado de Oferta Tecnológica nº 07/2025, que disponibiliza o material propagativo. A Embrapa enfatizou a importância crítica da aquisição de manivas sementes livres de doenças de empresas e maniveiros credenciados e registrados no Ministério da Agricultura (Renasem) para prevenir a disseminação de patógenos, como a ameaça emergente da Vassoura-de-bruxa.
Produtividade Recorde em Terra Firme
A BRS Jacundá foi especificamente desenvolvida para a terra firme amazônica, resultando em uma performance agronômica significativamente superior às variedades tradicionais. A cultivar apresenta potencial de produtividade de raízes superior a 30.000 kg/ha, podendo atingir picos de 40 toneladas por hectare (t/ha), sob manejo otimizado.
Comparado à média estadual atual, este desempenho representa um incremento potencial de mais de 300%. Este ganho genético não só garante maior rentabilidade ao agricultor, mas também contribui para a intensificação sustentável da cultura, ao triplicar o rendimento em áreas já estabelecidas e reduzir a pressão pela abertura de novas áreas.
Tabela 1: Comparativo de Desempenho Produtivo da BRS Jacundá no Amazonas
Métrica de Desempenho | Média Estadual Atual (kg/ha) | BRS Jacundá (Potencial Máximo – kg/ha) | Incremento Potencial (%) |
---|---|---|---|
Produtividade de Raízes | ~10.560 a 11.800 | 30.000 a 40.000 | Acima de 300% |
Qualidade da Polpa e Valor Nutricional
A BRS Jacundá atende à demanda mercadológica crucial por raízes de polpa amarela, ideal para a produção da tradicional farinha de mesa e tucupi, essenciais na agroindústria amazônica.
Além da aceitação cultural, a cor amarela indica um alto valor nutricional: a cultivar é rica em beta-caroteno (pró-vitamina A). Ao ser simultaneamente de alto rendimento e biofortificada naturalmente, a BRS Jacundá confere um benefício de saúde pública e aumenta seu valor agregado no mercado.
Desenvolvimento Científico e Tolerância Fitossanitária
Processo de Melhoramento Genético
A BRS Jacundá é fruto de mais de uma década de pesquisa meticulosa da Embrapa, iniciada com a coleta e avaliação de germoplasma em 1997. O objetivo era selecionar linhagens que unissem resistência, adaptação aos ambientes quentes e úmidos da Amazônia Ocidental e as características de qualidade exigidas localmente.
A cultivar é classificada como Mandioca Brava, significando que suas raízes possuem alto teor de Ácido Cianídrico (HCN) e são, portanto, ideais para o processamento industrial em farinha e fécula, exigindo o devido preparo antes do consumo. O ciclo de colheita varia entre 8 e 12 meses.
Tolerância Contra Doenças e Pragas
A resistência genética é um fator de gestão de risco crucial, protegendo o investimento do produtor. A BRS Jacundá foi lançada com a garantia de tolerância a importantes ameaças fitossanitárias que afetam os cultivos regionais:
Tabela 2: Tolerância da Cultivar BRS Jacundá a Principais Doenças e Pragas no Amazonas
Doença/Praga Comum | Nome Científico | Reação da Cultivar |
---|---|---|
Podridão Radicular | Phytophthora drechsleri | Tolerante |
Podridão por Fusarium | Fusarium spp. | Tolerante |
Mancha-parda | Cercospora henningsii | Tolerante |
Mancha-angular | Xanthomonas campestris pv. Cassavae | Tolerante |
Essa tolerância genética, no entanto, deve ser complementada pelo produtor com a aquisição de manivas sementes sadias e o manejo adequado, prevenindo a introdução e o estabelecimento de novas cepas.
Protocolo Agronômico: Diretrizes de Plantio e Manejo da BRS Jacundá
Para que a BRS Jacundá atinja seu potencial máximo de produtividade de 40 t/ha, um conjunto rigoroso de boas práticas agrícolas é essencial, priorizando a saúde do solo da Amazônia.
Preparo do Solo e Nutrição
- Correção da Acidez: A calagem (aplicação de calcário) é indispensável para corrigir a acidez típica dos solos amazônicos e otimizar a disponibilidade de nutrientes essenciais.
- Adubação: Deve ser baseada em análise de solo, focando nas necessidades de Fósforo (P) e Potássio (K). Recomenda-se um esquema de adubação NPK de base, complementado por adubações de cobertura em momentos críticos do ciclo (ex: 60 e 120 dias).
Plantio e Conservação
- Seleção do Material: Prioridade máxima para manivas certificadas (sementes vegetativas) fornecidas por multiplicadores oficiais credenciados pelo RENASEM, garantindo a sanidade e pureza genética.
- Época Ideal: O plantio deve ocorrer no início do período chuvoso local.
- Conservação do Solo: A manutenção de palhada ou cobertura vegetal sobre o solo é fundamental. Essa prática “eco-friendly” reduz a evaporação de água, protege contra a erosão e ajuda a mitigar o estresse hídrico.
A Rotação de Culturas como Imperativo Sustentável
A Embrapa desaconselha o monocultivo de mandioca por mais de dois anos na mesma área. Para a sustentabilidade da alta produtividade, a rotação de culturas é vital. Essa estratégia agroecológica:
- Quebra o ciclo de pragas e doenças, notadamente a podridão radicular.
- Melhora a estrutura física, química e biológica do solo.
- Reduz a necessidade de expansão de área de cultivo (desmatamento).
Espécies recomendadas para rotação incluem gramíneas e leguminosas (como milho, feijão-caupi e mucuna), que promovem a fixação biológica de nitrogênio e melhoram a fertilidade do solo, trazendo um benefício econômico direto.
Mecanização Inteligente: O Cultivador Articulado Vibro
Para garantir a escalabilidade e a eficiência econômica na gestão da BRS Jacundá, a integração da mecanização é crucial. O Cultivador Articulado Vibro é uma ferramenta de manejo integrado altamente recomendada, alinhando-se aos princípios de sustentabilidade e alta produtividade.
Vantagens Operacionais e Ambientais (Eco-Friendly)
O Vibro, operado por trator, utiliza hastes vibratórias em “S” que cumprem funções essenciais:
- Capina Mecânica Eficiente: Realiza o controle eficaz de ervas daninhas, incluindo gramíneas e ciperáceas, reduzindo drasticamente a dependência e os custos com herbicidas químicos. É classificado como “ECO FRIENDLY” por favorecer práticas de conservação.
- Aeração e Umidade do Solo: A vibração das hastes desintegra torrões, quebra a compactação e melhora a aeração do solo, o que é vital para o desenvolvimento radicular. Isso facilita a absorção e a retenção de água.
- Amontoa (Aterramento) Otimizada: O Vibro realiza a prática crítica de “jogar terra no pé” da mandioca (amontoamento) de forma rápida e eficiente. O aterramento é fundamental para estimular o desenvolvimento das raízes tuberosas e proteger a base da planta, garantindo que o potencial genético da BRS Jacundá seja plenamente expresso em altos rendimentos.
O uso do Cultivador Vibro Articulado garante que o manejo não seja o gargalo, permitindo que o produtor atinja as metas de 30 a 40 t/ha com custos operacionais reduzidos e maior sustentabilidade ambiental.